Muitas pessoas passam invisíveis pela vida. Elke Maravilha, não. Ela deixou um rastro de cores fortes e vibrantes. Cores presentes no figurino extravagante e na maquiagem forte e, principalmente, na personalidade destemida.
A multiartista gostava de desafiar convenções sociais. Já na infância, a pequena russa adorava conviver com os trabalhadores negros da plantação onde seu pai trabalhava, no interior de Minas Gerais, enquanto a maioria dos imigrantes preferia viver isolada, em colônias.
Adulta, vivendo sozinha no Rio de Janeiro, formou-se em Letras. Teve empregos convencionais: bancária, secretária, bibliotecária, professora de idiomas (além do português, dominava russo, inglês, francês, espanhol, italiano, alemão, grego e latim).
Loira e alta, foi convidada a ser modelo de grandes costureiros da época. A beleza considerada exótica fez sucesso nas passarelas, nos desfiles e logo estava nas capas de revistas. Não demorou para se lançar atriz e, depois, tornar-se uma das juradas de calouros mais famosas e queridas de todos os tempos.
Audaz, fez protestos contra desaparecidos políticos durante a ditadura e chegou a ser presa. A ousadia de chamar os militares de “covardes” a fez perder a cidadania brasileira. Durante décadas foi apátrida, até conseguir o passaporte alemão devido à ascendência de sua mãe, uma aristocrata.
Agregadora e ativista das liberdades individuais, foi madrinha da Associação das Prostitutas do Rio de Janeiro e musa dos gays. Defendeu o direito ao aborto – admitiu ter interrompido três gestações, “sem arrependimento” – e falava sem culpa da falta de vocação para a maternidade.
Elke não teve pudores em relação ao amor e ao sexo: casou e descasou oito vezes. Contava ter experimentado todas as drogas. Não vivia pela metade, mergulhava de cabeça em tudo o que se propunha experimentar.
Elke Georgievna Grunnupp morreu aos 71 anos, de falência de múltiplos órgãos, em decorrência de complicações de uma cirurgia. Já Elke Maravilha não morrerá jamais. Estará sempre na memória da cultura brasileira e de seus muitos admiradores.
Via Terra